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Entrevista

Presidente da ABHO defende reformulação da NR 15 e participação de higienistas na discussão

Quando o chileno José Manuel Gana Soto escolheu o Brasil para passar suas férias em 1974, não imaginava que ficaria por tanto tempo no País. "Faz 35 anos que estou aqui". Formado em química e com mestrado em Higiene Ocupacional no Chile, no Brasil se formou em Engenharia Química. No início, trabalhou em uma indústria de tintas; dois anos depois estava na Fundacentro. Na instituição, gerenciou a Divisão de Higiene Ocupacional. Participou de momentos históricos como a discussão da NR 15 e a criação da ABHO (Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais), da qual é presidente atualmente. O higienista também atuou no corporativo de uma multinacional da área química, a Rhodia, e depois passou a atuar como consultor em sua própria empresa. A experiência em diferentes lados dá a Gana Soto muita propriedade para falar da prática da Higiene Ocupacional no Brasil, analisando o passado e apontando perspectivas para o futuro. Com a ABHO, vem defendendo a reformulação da NR 15. A norma chega a ter limites de tolerância 100 vezes maiores do que os preconizados atualmente pela ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) através dos TLVs (Limites de Exposição Ocupacional). Na entrevista, Gana Soto também fala da atuação do higienista atualmente, demandas das empresas e práticas profissionais.

 

O que faz o higienista ocupacional e onde pode atuar?GANA SOTO - Temos que iniciar falando da formação do higienista. Para nós, o higienista ocupacional é um profissional da área de ciências exatas ou biomédicas que tem formação em Higiene Ocupacional, reunindo tanto experiência quanto participação em uma série de cursos nessa área. O profissional deve ter curso universitário completo, como engenheiros de todas as especialidades, físicos, químicos, biólogos, médicos e enfermeiros. Um segundo requisito é o curso de especialização, por exemplo, em Engenharia de Segurança do Trabalho, mas observamos que esses cursos não dão a formação completa que um higienista necessita. Eles também precisam procurar outros cursos para atuar plenamente na área. Ao mesmo tempo, defendemos a formação de um técnico higienista, que é um profissional com curso técnico de nível médico que auxilia o higienista "sênior". A ABHO trabalha em cima da certificação destes dois tipos de profissionais, superior e técnico. Quanto à atuação, ocorre nas mais diversas áreas. Temos o caso especial da Petrobras, que já formou mais de 200 profissionais de seu quadro, através de curso de especialização da USP. Essa é uma tendência do mercado. Resumidamente, o higienista ocupacional é aquele que atua na prevenção de doenças ocupacionais, estudando o ambiente de trabalho, as diversas fontes de energia, os agentes químicos e físicos que potencialmente podem ser prejudiciais para a saúde dos trabalhadores. No Brasil, temos higienistas atuando desde a pesquisa, como os profissionais da Fundacentro, até em empresas, fazendo a prevenção técnica dos mais diversos processos industriais.

Qual é o papel do higienista ocupacional na gestão da Segurança e Saúde no Trabalho? O senhor acha necessário que ele faça parte do SESMT?GANA SOTO - O seu papel, em primeiro lugar, é de diagnóstico das situações dentro da empresa e de criar programas que, junto com a nossa legislação, possam gerenciar um trabalho de prevenção de doenças ocupacionais específicas. Vejo que existe uma necessidade do profissional atuar em diversos segmentos, mas essa contratação deve ser adequada às necessidades da empresa. Há aquelas que pelo porte e especificidade de atuação do segmento de atividade precisam ter em seu quadro higienistas contratados como funcionários. Isso acontece já há muito tempo no Brasil. As grandes multinacionais têm há cerca de 30 anos a figura do higienista ocupacional como parte da empresa. Quando ela tem essa necessidade, contrata um profissional diferenciado dentro dessa área. Agora, as outras empresas, de porte médio, quando precisam de serviços de higienista contratam um consultor externo. O grande problema são as pequenas empresas, que atuam, em sua maioria, como terceirizadas, porque o serviço especializado compartilhado ainda não chega a elas. Uma saída seria um serviço especializado compartilhado que representasse um grupo de empresas menores. Não vejo a necessidade de se acrescentar a obrigatoriedade de outros profissionais nas normas oficiais. Ficaria uma estrutura muito grande, impossível de ser atendida por todas as empresas.

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